domingo, 28 de abril de 2013

EUA procuram pretexto para guerra total contra Síria?



Novas acusações alegam o uso de armas químicas pela Síria. Nós escutamos coisas parecidas antes. Obama sinaliza que o seu uso é um “divisor de águas”. Ele também disse que tal uso cruza “uma linha vermelha.”


Por Stephen Lendman, no Global Research


Os oficiais sírios são inequívocos. Semanas antes, o vice-ministro das Relações Exteriores sírio Faisal Miqdad falou por outros ao dizer: “A Síria volta a reforçar, pela décima, centésima vez, que se nós tivéssemos tais armas, elas não seriam usadas contra o nosso povo. Nós não cometeríamos suicídio.”

Alegar o uso de armas químicas pela Síria lembra as falsas acusações sobre as armas de destruição em massa de Saddam. É semelhante às falsas acusações contra todos os inimigos dos Estados Unidos.

Grandes mentiras começam guerras. Elas as facilitam. As perpetuam. Gore Vidal disse uma vez: “Nossos governantes, por mais de meio século, garantiram que nós nunca soubéssemos da verdade sobre nada que o nosso governo fez para outras pessoas, isso para não mencionar o que ele fez para as nossas pessoas”.

A Síria é a guerra de Washington. Estava planejada há anos. Seu objetivo é uma mudança de regime. A América está envolvida desde o início. Governos independentes não são tolerados.

A tão chamada ajuda “não letal” representa a ponta do iceberg da América. A CIA está envolvida em facilitar carregamentos marítimos de armas. Chegam enormes montantes. Esquadrões da morte apoiados pelos Estados Unidos são bem abastecidos.

A questão é se Obama planeja uma intervenção direta. Cerca de 200 grupos militares dos EUA foram implantados na Jordânia. Eles estão posicionados ao longo da fronteira síria. John Kerry anunciou que iria dobrar a ajuda dos EUA aos insurgentes.

Por um lado, o secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen diz que nenhuma intervenção está planejada. Por outro, ele deu pistas de possivelmente partir para isso. O comandante-supremo das Forças Aliadas da Otan, almirante James Stavridis, diz que está pronto para agir se lhe pedirem.

Talvez o artigo quinto do Tratado do Atlântico Norte seja invocado. O artigo considera um ataque (real ou de outro modo) contra um ou mais membros [da Otan] um ataque contra todos eles. Convoca uma ação coletiva.

Haverá um incidente planejado? Estarão as armas químicas cruzando a “linha vermelha” de Obama? Será que a Otan vai invocar o artigo quinto? A agressão imperialista virá em seguida? Talvez Obama tenha isso em mente. Ele prioriza as guerras. Ele deplora a paz. Ele dá as condições prévias para as negociações de mudança de regime.

No começo de abril, oficiais da inteligência dos EUA anônimos alegaram que a Síria usava armas químicas. Dois supostos incidentes em Damasco foram citados.

Em um discurso de março, Obama disse: “Nós não vamos tolerar o uso de armas químicas contra o povo sírio. O mundo está assistindo, e nós vamos responsabilizar o país por isso.”

No final de março, evidências críveis do uso de armas químicas por insurgentes vieram à tona. A força armada síria disse que um foguete feito em casa tinha sido lançado.

Ele continha CL17. É uma forma de cloro. Induz vômitos, desmaios, sufocamentos e ataques epiléticos. Aqueles nas áreas próximas são afetados.

O distrito de Khan al-Asal foi atacado. Fica no sudoeste de Alepo. Forças governamentais o controlam. Membros do Jihad atacaram uma barreira alfandegária controlada pelo exército.

Uma fonte de um hospital local disse que ele pessoalmente testemunhou o pessoal do exército ajudando os feridos. Mais de duas dúzias de mortes foram contabilizadas. Elas incluíam soldados sírios.

Diplomatas europeus reconheceram o ocorrido. Eles mentiram alegando “fogo amigo.”

O Reino Unido e a França disseram que a Síria usou armas químicas mais de uma vez desde dezembro. Diplomatas anônimos alegam que amostras do solo, entrevistas com testemunhas e fontes da oposição apontam para o uso de gases de nervos perto de Alepo, Homs e possivelmente Damasco.

De acordo com diretor de Inteligência Nacional James Clapper, as acusações estão sendo avaliadas. Alguns oficiais de inteligência dos EUA são céticos a respeito. Sem os censores norte-americanos na Síria, determinar o uso de armas químicas já é bastante difícil. Mais difícil ainda é decidir quem é responsável se evidências críveis são encontradas.

Segundo um oficial de defesa anônimo dos EUA, qualquer um poderia plantar evidências do uso de armas químicas. “Encontrá-las em um terreno que não é nosso é muito difícil, especialmente quando estamos falando de agentes não persistentes.”

“Nós não podemos ter certeza de que as amostras não foram contaminadas por pessoas que têm interesse em tentar envolver a comunidade internacional.”

Ele completou que os testes conduzidos pelo Reino Unido não foram conclusivos. Não foram fornecidos detalhes de onde as amostras foram recolhidas e quem as entregou. Não foi encontrado um uso significativo de agentes químicos.

Supostos relatos de testemunhas oculares culpavam Assad. Mais tarde, foi provada sua falsidade. Israel produziu alguns novos. No dia 23 de abril, o Haaretz noticiou que “Israel confirma que o regime sírio usou armas químicas contra rebeldes”.

De acordo com o general-chefe da Divisão de Pesquisa da Inteligência Militar Itai Brun: “Até onde chega o nosso conhecimento profissional, o regime usou armas letais químicas em uma série de ocasiões, incluindo o incidente do dia 19 de março.”

Ele citou evidências fotográficas. De quem, ele não disse. Elas são fáceis de fabricar. Supostamente, elas mostram vítimas espumando pela boca com as pupilas contraídas. Ele alega que a arma usada era feita de gás sarin.

“O regime tem usado cada vez mais armas químicas”, ele alega. “O simples fato de eles usarem armas químicas sem qualquer reação apropriada – esse é um desenrolar muito preocupante, porque pode sinalizar que é uma situação legítima.”

Ele alega que a Síria tem um “grande arsenal de armas químicas, mais de 1000 toneladas de químicos, centenas de bombas aéreas e uma boa quantia de ogivas e mísseis de superfície que podem ser carregados com armas químicas.”

“Como isso vai se desenrolar é uma boa questão. Nós precisamos estar bastante preocupados com o fato de que armas químicas podem chegar às mãos de pessoas menos responsáveis que não consideram as consequências de suas ações.”

Eles “não fazem cálculos normais de custo-benefício.” Ele diz que isso é “preocupante.”

Ao mesmo tempo, ele não tem certeza se o conflito regional vai incluir o uso generalizado de armas químicas. Ele ressaltou que “é necessário ver como a situação se desenrola em curto prazo.”

Dias antes, Netanyahu falou sobre a questão: “Nós estamos preparados para nos defender se a necessidade surgir e eu acho que as pessoas sabem que o que eu digo é ao mesmo tempo calculado e sério". “Nós temos de estar muito incomodados com a possibilidade de que armas químicas caiam nas mãos de atores menos responsáveis". “É certamente possível que ocorram outros incidentes de ataques contra Israel por outras organizações que obtenham diferentes tipos de armas.”

Em uma reunião de ministros do exterior da Otan. John Kerry incitou os membros a responder caso seja determinado que a Síria usa armas químicas. “Nós deveríamos cuidadosamente e coletivamente considerar como a Otan está preparada para responder e proteger seus membros de uma ameaça síria, incluindo qualquer ameaça potencial de armas químicas”, disse ele.

Ao mesmo tempo, ele falou com Netanyahu por telefone. “Ele não estava em posição de confirmar (o uso de armas químicas) na conversa que tivemos.”

“Eu ainda não sei se os fatos existem. Eu não acho que ninguém saiba ao certo.”

Separadamente, o secretário de defesa Chuck Hagel disse que a inteligência a respeito do uso de armas químicas segue inconclusiva. Seu porta-voz George Little completou: 

“Nós reiteramos nos termos mais fortes possíveis a obrigação do regime sírio de salvaguardar seus estoques de armas químicas, e não usar ou transferir tais armas para grupos terroristas como o Hezbolá.”

Os eventos daqui em diante demandam exames minuciosos. Obama pode estar planejando mais guerra. Não se engane. Ele vai tirar o máximo proveito das bombas da maratona de Boston. Vai fazer isso em casa e no exterior. Os Estados párias operam assim.

* Stephen Lendman vive em Chicago. Ele pode ser encontrado no e-mail lendmanstephen@sbcglobal.net. Seu novo livro é chamado “Banker Occupation: Waging Financial War on Humanity.” Visite seu blog acessando: sjlendman.blogspot.com. Artigo originalmente publicado no Global Research. 

Fonte: Opera Mundi e Portal Vermelho

Síria: Não usar armas químicas é decisão moral



Omran al-Zoubi, ministro de Informação da Síria

Damasco não usa armas químicas contra os grupos armados, assegurou nesta sexta-feira (26) o ministro sírio da Informação, Omran al-Zoubi.

"O Exército Árabe Sírio não tem armas químicas (...) e no caso de possuí-las, nunca as utilizou nem utilizará contra os grupos armados", confirmou Al-Zoubi durante sua entrevista para a emissora de televisão russa Russia Today.

“Esta decisão não é uma decisão política, é uma decisão moral e legal, pois o governo da Síria respeita e nunca tomará esta medida", destacou o funcionário sírio.

Nesse contexto, o ministro lembra que esse ato desumano só pode ser realizado por algumas organizações, como a Al-Qaida, que há já muito tempo tem ameaçado usar armas químicas na Síria.

Por outro lado, o vice-chanceler sírio, Faissal Meqdad, revelou que o governo em Damasco deu luz verde ao envio de um grupo da ONU para a região de Jan al-Asal, em Alepo.

Em 19 de março deste ano, a localidade de Jan al-Asal foi alvo de um míssil carregado de elementos químicos, disparado pelos membros de grupos terroristas ou mercenários; em consequência do disparo, 25 pessoas morreram e outras 130 resultaram feridas, dentre elas mulheres e crianças.

"As acusações de vários países ocidentais, como Estados Unidos, Reino Unido e França, de que o Exército Árabe Sírio usa armas químicas no país, são falsas", assegurou Meqdad.

Na última quinta-feira, Washington e Londres, ao anunciar formalmente que têm "evidências" de que o governo sírio "usa armas químicas", mencionaram que o gás Sarin tem sido usado em pequena escala no país, alegou o secretário de Defesa dos EUA, Chuck Hagel, em uma coletiva de imprensa realizada nos Emirados Árabes Unidos (EAU), uma monarquia ditatorial patrocina da pelos EUA no Oriente Médio.

Com informações da HispanTV



Síria: Damasco considera "mentira descarada" acusação sobre uso de armas químicas



Moscou, 27 abr (Lusa) -- O responsável pela informação do regime de Damasco disse hoje a uma televisão russa que as acusações dos Estados Unidos e do Reino Unido sobre o uso de armas químicas na Síria são uma "mentira descarada".
"Antes de mais, quero afirmar que as declarações do secretário de Estado norte-americano e do governo britânico são inconsistentes e são uma mentira descarada", declarou Omran al-Zohbi numa entrevista publicada no 'site' da RT, uma televisão fundada pelo Kremlin, na Rússia.
"Quero expressar mais uma vez que a Síria jamais as usaria -- não apenas por causa das obrigações perante as leis internacionais, mas por motivos humanitários e morais", acrescentou Zhobi na entrevista gravada em inglês.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Síria: agrava-se a situação



26/4/2013, MK Bhadrakumar, Indian Punchline  http://blogs.rediff.com/mkbhadrakumar/2013/04/26/a-turning-point-in-syria/

A questão síria sofreu mudança significativa, depois dos últimos pronunciamentos dos EUA, de que teriam sido usadas armas químicas nos confrontos. A declaração dramática feita pelo secretário de Defesa Chuck Hagel ontem, 5ª-feira, durante visita a Abu Dhabi,[1] e que desdiz o que ele próprio dissera no início da semana, somada à carta que a Casa Branca enviou ao senador John McCain,[2] podem ter mudado, da noite para o dia e para pior, o quadro na Síria.

Segundo o que disseram os norte-americanos, o regime sírio teria cruzado a ‘linha vermelha’ que, nas palavras do presidente Barack Obama, dispararia a intervenção ocidental. O senador McCain imediatamente exigiu que os EUA passem a fornecer armas aos rebeldes sírios.[3] Apesar de a carta da Casa Branca ainda repetir que é preciso esperar confirmações de fontes da inteligência dos EUA, não há dúvidas de que aumentam as pressões para que Obama “faça mais” na Síria.

Não há dúvidas de que é novidade e ponto de virada. Não se pode esquecer que essa virada na posição dos EUA acontece imediatamente depois da reunião de ministros de Relações Exteriores da OTAN em Bruxelas, na qual a Síria foi o principal item da agenda. O secretário de Estado John Kerry disse diretamente que a OTAN prepare-se para responder.[4] 

Significativamente, Israel[5] e Grã-Bretanha[6] também acusaram o regime sírio de ter usado armas químicas. A declaração de Israel coincidiu com a visita de Hagel a Telavive. Tudo isso sugere um alto grau de coordenação entre EUA, Grã-Bretanha e Israel, que explica essas declarações simultâneas.

Rússia e China serão pressionadas para que desistam e permitam que a ONU inicie processo de investigação. O secretário-geral Ban Ki-Moon já disse que a ONU prepara-se para acusar a Síria por uso de armas de destruição em massa,[7]o que, é claro, pode ser o primeiro passo rumo a uma arriscada intervenção na Síria – que muito provavelmente terá consequências tão daninhas e perigosas quanto a intervenção no Iraque.


segunda-feira, 22 de abril de 2013

EUA aumentam ajuda à oposição armada síria


Washington anunciou neste sábado (20) sábado que destinará mais 123 milhões de dólares à oposição armada síria como ajuda material aos mercenários que buscam derrocar o governo de Bashar al-Asad.


Ao término de um encontro dos denominados Amigos da Síria, realizado em Istambul, Turquia, o secretário norte-americano de Estado, John Kerry, afirmou que os Estados Unidos aumentarão o pacote total de sua ajuda destinada aos opositores armados sírios para um total de 250 milhões de dólares. 


"O presidente (Barack Obama) me pediu que aumentem nossos esforços", declarou o chefe da diplomacia estadunidense, em uma coletiva de imprensa conjunta com seu homólogo turco, Ahmet Davutoglu.


Kerry destacou que a ajuda suplementar norte-americana se estenderá mais além das rações alimentares militares e dos kits de ajuda médica para incluir outros tipos de “equipamentos não letais”.


A autoridade estadunidense instou os dez países ocidentais e árabes do denominado grupo de Amigos da Síria a incrementar sua ajuda aos opositores na Síria para alcançar o total de um bilhão de dólares.


Na véspera do encontro, o Reino Unido e a França propuseram levantar o embargo da União Europeia (UE) sobre a entrega de armas aos terroristas que operam na Síria a fim de inclinar a balança militar a favor desses combatentes, apesar do temor de que as armas caiam em mãos de grupos vinculados à Al-Qaida.


O ministro russo de Relações Exteriores, Serguei Lavrov, ao manifestar o rechaço de Moscou ao denominado grupo dos Amigos da Síria, expressou na última quarta-feira (17) que tal formação só joga um papel "negativo".


Hispan TV

Fonte: Portal Vermelho

Líder da oposição síria, Ahmed Moaz Al-Khatib, deixa o cargo




Ele alegou 'falta de ação' da comunidade internacional diante de conflito. Reunião em 10 de maio deve definir novo líder da oposição síria.

O líder da oposição síria, Ahmed Moaz Al-Khatib, deixou o cargo neste domingo (21), alegando "falta de ação" da comunidade internacional diante do conflito na Síria, ao fim de uma reunião do grupo Amigos da Síria em Istambul.

"Posso confirmar que a renúncia do senhor Ahmed Moaz Al-Khatib é definitiva", declarou Marwan Hajjo, membro da Coalizão Nacional Síria (CNS).

Em uma mensagem ao CNS publicada em sua página no Facebook, Al-Khatib criticou "a falta de ação" da comunidade internacional: "Quando um pássaro está na gaiola, permanece prisioneiro e paralisado. Agora, saí da gaiola de decepção em que estava trancado."

Uma fonte do CNS, que pediu para não ser identificada, informou à AFP que a direção do bloco opositor "já realiza consultas sobre quem deverá se tornar o presidente interino até a reunião prevista para 10 de maio".

Al-Khatib expressava desde março sua determinação de renunciar à presidência do CNS, "para poder trabalhar com a liberdade de que não posso desfrutar dentro de uma organização oficial".

Sua saída definitiva acontece após a reunião do grupo Amigos da Síria na Turquia, em que o governo americano anunciou que irá dobrar sua contribuição de equipamentos militares não letais aos rebeldes sírios.

Os rebeldes insistem em pedir armas pesadas para enfrentar o Exército sírio.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Rebeldes sírios desviam 60% da ajuda humanitária recebida do exterior



Até 60% da ajuda humanitária enviada para a Síria a partir do estrangeiro foram roubados, perdidos ou trocados por armas pelos grupos rebeldes. Isto foi revelado por fontes sírias consultadas pelo jornal The Daily Telegraph.

Trata-se de centenas de milhões de libras desviadas, diz o jornal. O governo do  Reino Unido  está preocupado com a situação e está formando uma rede de controladores da distribuição da ajuda dada aos “rebeldes”.  Uma unidade especial de coordenação dedicada a este assunto irá incorporar 90 funcionários. Eles vão trabalhar em estreita colaboração com a  Coalizão Nacional Síria, grupo de oposição reconhecido por alguns países europeus. Atualmente, as autoridades e ONGs britânicas dão uma ajuda substancial aos grupos armados, exceto (oficialmente, ao menos) o envio de armas. Eles também fornecem alimentos para a população em áreas controladas pelos rebeldes. A formação da unidade especial britânica pode estar relacionada a recentes declarações do primeiro-ministro britânico, David Cameron, sobre seus planos para retomar  a entrega de armas  para as forças antigovernamentais na Síria.

domingo, 14 de abril de 2013

Al-Qaeda iraquiana faz fusão com grupo rebelde sírio



Líder do autointitulado Estado Islâmico do Iraque diz que financiou células de combatentes

 

09 de abril de 2013 | 10h 14

Reuters

DUBAI - A Al-Qaeda iraquiana se uniu a um grupo islâmico da Síria que luta contra o regime do presidente sírio, Bashar Assad, tornando mais complicado o dilema para as nações que apoiam a revolta síria, mas temem a ascensão da militância islâmica.
O líder do autointitulado Estado Islâmico do Iraque, Abu Bakr al-Baghdadi, disse que seu grupo financiou células de combatentes da Frente al-Nusra desde os primeiros dias da rebelião síria, iniciada há dois anos.
Em nota divulgada em sites islâmicos e vista pela Reuters nesta terça-feira, 9, ele declarou que os dois grupos passariam a operar conjuntamente sob o nome de Estado Islâmico do Iraque e do Levante.

 "Agora é hora de declarar diante do povo do Levante e do mundo que a Frente al-Nusra não é senão uma extensão do Estado Islâmico do Iraque, e parte dele", disse Baghdadi.

Muitos governos ocidentais e árabes torcem pela derrubada de Assad, mas estão alarmados com o crescente poderio dos jihadistas sunitas, cuja ideologia ferozmente antixiita tem alimentado tensões sectárias no Oriente Médio.
A Frente al-Nusra é considerada pelos EUA como uma organização terrorista. A declaração de Baghdadi, inicialmente noticiada pelo serviço norte-americano de monitoramento Site, não pôde ser imediatamente verificada.
Ele disse que seu grupo mobilizou combatentes experientes e enviou verbas para células locais da Frente al-Nusra, como forma de preparar o terreno para uma rebelião armada - que surgiu a partir de protestos pacíficos contra Assad, iniciados em março de 2011. O dirigente afirmou que o vínculo não havia sido informado até agora por razões de segurança.
A Frente al-Nusra não se manifestou sobre a fusão. Esse grupo se tornou conhecido no ano passado, quando assumiu a autoria de vários atentados a bomba em Damasco e Alepo, as duas principais cidades da Síria.
Desde então, o grupo ampliou suas operações para toda a Síria, recrutando mais combatentes e assumindo um papel importante na captura de territórios no norte, sul e leste do país. Especialistas há meses já diziam que a Frente al-Nusra estava recebendo apoio de insurgentes ligados à Al-Qaeda no vizinho Iraque. 

Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,al-qaeda-iraquiana-faz-fusao-com-grupo-rebelde-sirio,1018814,0.htm


 

Jornalistas foram sequestrados no último dia 4 no norte da Síria, onde realizavam um documentário para a RAI


France Presse

Publicação: 13/04/2013 19:27 Atualização:

Roma - Os quatro jornalistas italianos sequestrados no início de abril na Síria por um grupo islâmico chegaram na noite deste sábado a Roma, informou o gabinete do governo de Mario Monti. O avião fretado pelo governo com o enviado especial da TV estatal RAI Amedeo Ricucci, o fotógrafo Elio Colavolpe, o documentarista Andrea Vignali e a repórter freelance de origem síria Susan Dabbous pousou às 20H30 GMT (17H30 Brasília) no aeroporto Ciampino.

"Desejo agradecer à unidade de crise da chancelaria e às estruturas do Estado italiano por seu compromisso e profissionalismo por ter conseguido resolver de forma positiva o caso", afirmou Monti, que exerce interinamente o cargo de ministro das Relações Exteriores.

Os quatro jornalistas foram sequestrados no último dia 4 no norte da Síria, onde realizavam um documentário para a RAI.

"Ficamos em poder de um grupo islâmico que não faz parte do Exército Sírio Livre (ASL). Foi um equívoco", explicou Amedeo Ricucci à agência 

Durante os oito dias de sequestro, o grupo passou por diversos cativeiros, revelou o jornalista.

Segundo a mídia italiana, o grupo foi sequestrado por milicianos islâmicos quando filmava pichações no muro de uma igreja em Yaqubiya, uma antiga cidade de maioria cristã hoje transformada em feudo do grupo 'jihadista' Al-Nosra, ligado à Al-Qaeda.

Os milicianos teriam confundido os jornalistas com espiões.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Grupo jihadista na Síria declara obediência à Al-Qaeda





A Frente Nusra, um grupo jihadista com voluntários estrangeiros e combatentes sírios, uma das formações que mais têm surgido na frente de combate contra o regime de Bashar al-Assad, declarou esta quarta-feira a sua obediência à Al-Qaeda. Ao mesmo tempo, desmentiu integrar o ramo iraquiano da rede, como fora anunciado pelos iraquianos.

Os especialistas em redes terroristas e jihad internacional ainda estavam a analisar as implicações da fusão da Nusra com a Al-Qaeda no Iraque para a guerra síria quando foi conhecida a mensagem de áudio de Abu Mohammed al-Julani, chefe do grupo formado para combater a ditadura síria. “Nós, a Frente Nusra, declaramos obediência ao xeque Ayman al-Zawahiri”, afirmou Julani na mensagem divulgada em fóruns de discussão onlinehabitualmente usados para anúncios, e citada pela AFP.

Zawahiri, sucessor de Osama bin Laden e herdeiro do que resta da Al-Qaeda que nasceu nas províncias entre o Paquistão e o Afeganistão, é uma coisa – o grupo que se afirma representante da Al-Qaeda no Iraque é outra. “Informamos que nem o comandante da Nusra nem a sua shura [conselho consultivo] nem o seu responsável geral estavam ao corrente deste anúncio”, diz Julani, acrescentando não ter "sido “consultado”.

Na véspera foi conhecida uma mensagem de Abu Baqr al-Baghdadi, líder da Al-Qaeda no Iraque, dizendo que a Nusra é um ramo da sua organização e que o objectivo comum é erguer um Estado islâmico “no Iraque e no Levante”. Julani sublinha que o anúncio não foi “apropriado” e explica: “Adiámos o anúncio da adesão à Al-Qaeda por causa da particularidade síria”.

A particularidade síria inclui, entre outros aspectos, uma oposição política laica (a par de grupos islamistas) e o Exército Livre da Síria, grupo que começou por tentar organizar as várias unidades de desertores e de voluntários que combatiam isoladamente o regime.

Na terça-feira, depois de ser conhecida o anúncio de Baghdadi, o porta-voz do Exército Livre, Louai Meqdad, afirmou que “ninguém tem o direito de impor aos sírios a forma do seu Estado”. “Nós não apoiamos a ideologia da Nusra” e “lutamos por um Estado democrático”, disse Meqdad, repetindo uma mensagem frequente. Depois, admitiu aquilo que há muito o grupo deixou de tentar esconder. Algumas brigadas do Exército Livre “cooperam com eles em algumas operações” – “é uma cooperação táctica e pontual”, justificada pelo facto de a Nusra ser “financiada e armada”.

Fonte: Mundo P


Sul da Síria registra mais de 50 mortos em apenas um dia



Mais de 50 pessoas, incluindo mulheres e crianças, morreram nesta quarta-feira, na província de Deraa, no sul da Síria, nos bombardeios das forças do regime e confrontos entre os soldados governamentais e os rebeldes, informou nesta quinta-feira o Observatório Sírio de Direitos Humanos.

Pelo menos 32 civis morreram nas aldeias de Al Sanmi e Al Gabagueb, informou por telefone o diretor desta organização, Ramy Abderrahman. Além disso, 19 combatentes da oposição perderam a vida em choques contra as forças do regime.

Em declarações, um representante da opositora Rede Sham em Deraa, Qaesar Habib, confirmou a morte de 51 pessoas. Segundo a versão de Habib, os falecidos morreram em bombardeios e alguns foram executados pelas forças do regime.

A agência de notícias oficial "Sana", que cita uma fonte militar, informou nesta quinta-feira que o exército matou vários combatentes em Deraa al Balad e na estrada de Al Tailin, na altura de Dael, em uma operação especial contra dois "grupos terroristas armados".

As informações não puderam ser verificadas de forma independente devido às restrições impostas pelas autoridades aos jornalistas para trabalhar. Mais de 70 mil pessoas morreram na Síria desde o início do levante contra o regime de Bashar al Assad, em março de 2011.

As informações são da EFE 

Fonte: O Dia.

Washington prepara novas medidas de apoio à oposição síria





No futuro próximo, as autoridades estadunidenses pretendem tomar novas medidas para apoiar as forças de oposição sírias, relata esta quarta-feira a mídia ocidental, citando uma fonte não identificada do governo dos EUA.

A referida fonte observou que o principal objetivo da liderança norte-americana é "a formação de um governo de transição que reflita as exigências legítimas do povo sírio".
Conforme foi relatado, esta semana, o secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry, se reunirá com a oposição síria em Londres.

Fonte: A voz da Rússia

Rússia preocupada com aumento do interesse da Al-Qaeda pela Síria




Moscou mostra-se preocupada com o aumento do interesse de membros da organização terrorista internacional Al-Qaeda pela Síria, que esse grupo “planeja transformar em sua principal cabeça-de-ponte no Oriente Médio”, informou hoje o MRE da Rússia.

Na informação assinala-se que o grupo sírio Jabhat al-Nusra inserido nos fins do ano passado pelos EUA na lista de organizações terroristas, é uma célula de Al-Qaeda. O ministério lembra também que o líder da Jabhat al-Nusra, confirmou publicamente que os militantes de seu grupo cumprem ordens do xeque Ayman al-Zawahiri, líder da Al-Qaeda.

Fonte: A voz da Rússia

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Putin: A Síria não pode ser uma nova Líbia ou um novo Iraque




Antes de sua viagem à Alemanha, realizada neste fim de semana, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, concedeu entrevista à maior rede de televisão alemã, a ARD, na qual falou dos temas foram tratados durante a visita, tanto os relacionados à cooperação bilateral Rússia-Alemanha quanto os que dizem respeito à política internacional.


Leia abaixo trechos da entrevista reproduzida pelo site Diário da Rússia:


ARD: Presidente Vladimir Putin, como o senhor avalia o estágio atual das relações entre Rússia e Alemanha?

Vladímir Putin: 
Vamos ampliar o alcance da sua pergunta e dizer que a União Europeia responde por 50% da movimentação comercial da Rússia. Pois bem: entre os países membros da União Europeia, a Alemanha é a nossa principal parceira. A balança comercial Rússia-Alemanha registra US$ 74 bilhões. Portanto, entre os países da União Europeia, a Alemanha mantém a liderança nas relações econômicas com a Rússia, além de ser o nosso maior investidor externo.


Quais as perspectivas de esta cooperação bilateral aumentar?

Como disse, o intercâmbio comercial hoje entre Rússia e Alemanha é de 74 bilhões de dólares, e tende, de fato, a aumentar, apesar de alguns problemas pendentes. Por trás destes números estão os postos de trabalho e a troca de modernas tecnologias. A República Federal da Alemanha continua sendo um dos principais investidores da Federação Russa, com um montante de 25 bilhões de dólares em investimentos acumulados. Somente em 2012, os investimentos da Alemanha na Rússia aumentaram US$ 2,2 bilhões.


Desde a eclosão da crise econômica em Chipre, esta será a primeira vez em que os governantes da Rússia e da Alemanha se encontrarão pessoalmente. O que o senhor pretende conversar com a chanceler Angela Merkel?

A Rússia entende que não há necessidade de impor confiscos de ativos aos depositantes dos bancos cipriotas e que as condições de empréstimo de capitais podem perfeitamente ser bem discutidas entre todas as partes. A Rússia já prestou socorro financeiro a Chipre e não impôs exigências draconianas.


Como o senhor vê as informações veiculadas pela mídia internacional de que Chipre foi transformado numa grande lavanderia financeira?

As acusações de que Chipre se presta a lavar ou a clarear dinheiro precisam ser provadas. Será que os autores de tais acusações desconhecem as regras elementares da responsabilidade jurídica? Uma destas regras é a da presunção de inocência que deve ser atribuída a quem se vê alvo de acusações de atos ilícitos. Então, partindo-se deste princípio, como se pode dizer que todos os depositantes dos bancos cipriotas agem ilegalmente? É preciso ter provas para dizer isso. Provas bem consistentes, por sinal.


Vamos falar da Síria, país para o qual a Rússia exige soluções diplomáticas e veta qualquer possibilidade de intervenção externa. A seu ver, quais são as perspectivas para que a crise e a guerra civil na Síria cheguem ao fim?

A Rússia não admite intervenção externa na Síria, nem que este país sofra interferências em seus assuntos soberanos. Nós não queremos que se repitam na Síria os fatos ocorridos na Líbia, no Iraque e no Iêmen. Estes países sofreram uma verdadeira desintegração após as mudanças de poder. A Rússia sustenta que a sociedade síria é a única parte legítima para obter a solução dos seus conflitos. Não há razões para quaisquer interferências externas no país.


Presidente Putin, vamos falar agora de uma situação interna do seu país que provocou e continua provocando intensa repercussão no exterior – o controle das ONGs, organizações não governamentais. No caso específico, o fato de as 654 ONGs financiadas por outros países merecerem atenções especiais do governo russo. O que o senhor nos diz a respeito?

Não inventamos nada de novo a este respeito ao exigir que organizações não governamentais financiadas com recursos do exterior façam os seus registros, junto aos órgãos competentes russos, de acordo com o que realmente são: pessoas jurídicas de capital externo. Qual é a novidade que nós introduzimos? Diversos países agem assim, inclusive os Estados Unidos. O Kremlin não inventou nada. Para ter uma ideia do que se passa na Rússia com estas ONGs de capital externo, quatro meses após a entrada em vigor da lei que regula a atividade das ONGs de capital externo, foram transferidos para as suas contas bancárias 28,3 bilhões de rublos, o que equivale a quase um bilhão de dólares. Será que a sociedade russa não tem o direito de saber quem recebe este dinheiro e qual é a destinação do seu uso?


Para encerrar, Presidente Putin: quais são os seus planos pessoais para o futuro? Por futuro, entenda-se 2018, o ano em que terminará o seu mandato presidencial.

Adoro Direito e Literatura, e espero poder me ocupar destas áreas sem manter ligações com quaisquer estruturas públicas. Admito, porém, manter ligações em outras áreas como as relacionadas à sociedade russa e ao mundo dos esportes na Rússia.



Fonte: Diário da Rússia


Publicado originalmente no Portal Vermelho.

Entrevista do presidente Bashar al-Assad, da Síria, à televisão turca




5/4/2013, entrevista à rede Ulusal Kanal, Turquia (38’). Vídeo e entrevista traduzida (do inglês), in Information Clearing House  http://goo.gl/X9XFl

Ulusal Kanal (1): Senhor presidente, obrigado por nos receber. Minha primeira pergunta pode soar um pouco estranha, mas tenho de perguntar. O senhor pode confirmar, por favor, que está vivo e não deixou a Síria?

Bashar al-Assad, presidente da Síria: Em primeiro lugar, meus votos de boas vindas à Síria, a você e sua equipe. É um prazer para mim falar com vocês hoje. E, através de vocês, também com o povo da Turquia. Você pode ver que estou aqui, plenamente em campo. Não estou escondido num subterrâneo, como chegaram a dizer. São mentiras que se divulgam, de tempos em tempos, para abater a moral do povo sírio, que eu estaria vivendo no Irã, ou num navio de guerra. Vocês podem ver que estou aqui, na Síria, é claro. 

Ulusal Kanal(2): Como o senhor sabe, em recente reunião da Liga Árabe, a cadeira que cabe à representação da Síria foi dada à oposição, o que abriu uma discussão sobre a sua legitimidade. Significará que a Liga Árabe retirou sua legitimidade, ao admitir o voto da oposição e pelo fato de que o senhor já não tem representação na Liga Árabe? 

Presidente Bashar al-Assad: Falando bem francamente, a Liga Árabe, essa sim, não tem qualquer legitimidade. É organização que representa estados árabes, não os povos árabes. E não tem qualquer legitimidade já há muitos anos, pelo fato evidente de que os estados lá representados não manifestam a vontade do povo daqueles estados. Mesmo quando a Síria ainda participava da Liga Árabe, já sabíamos disso. Portanto, a Liga Árabe absolutamente não está em posição de ‘dar’ ou ‘retirar’ legitimidade a seja quem for ou a seja que país for. 

Além disso, o movimento que se viu na Liga Árabe não passou de jogo de cena, um movimento apenas simbólico, para gerar uma ilusão de legitimidade. Nenhuma legitimidade brota de participar ou não participar de organizações políticas, internacionais ou quaisquer outras, nem nasce por doação de alguma nação estrangeira. Na Síria, só o povo sírio é fonte de legitimidade. E só isso nos interessa. O resto não nos diz respeito nem nos interessa.

Ulusal Kanal (1): Há medidas, decisões, ações empreendidas contra seu país por alguns países árabes e também por países ocidentais. Por outro lado, os países BRICSs, que são observadores da situação síria, tomaram decisões diferentes das que foram tomadas pelos países árabes e outros países ocidentais. Como o senhor avalia as atitudes e posições tomadas pelos países BRICSs?

Presidente Bashar al-Assad: Sua pergunta chama a atenção para um ponto importante. Para começar, o conflito na Síria não é conflito local, doméstico. Há ativadas dinâmicas externas à Síria, a maioria das quais visam a redesenhar o mapa dessa região. E há na questão síria uma disputa também de interesses conflitantes das grandes potências. A criação do bloco de países chamados países BRICSs implica que os EUA já não são a única potência no mundo. Hoje, já é impossível ignorar os interesses difusos de outras forças, quando se tomam decisões na arena internacional. 

Os países BRICSs não apoiam o presidente Bashar al-Assad ou o estado sírio: eles apoiam a estabilidade nessa região. Todos sabem que a agitação na Síria cria o risco de que forças terroristas assumam o controle na região. Todos sabem que, se o conflito em que a Síria foi jogada alcançar o ponto de rachar o país, ou se forças terroristas conseguirem chegar a controlar a Síria, ou no caso de que aconteçam as duas coisas, o que acontecer aqui imediatamente contagiará primeiro os países vizinhos, depois, por efeito dominó, chegará a países em todo o Oriente Médio.

Nesse quadro, os países BRICSs apoiam uma solução política para a Síria, contra as demais potências ocidentais.

Se se consideram outros líderes árabes que se posicionaram contra a Síria, sabe-se que não são independentes, em termos políticos, daquelas mesmas potências ocidentais. São líderes que agem conforme o diktat daquelas potências ocidentais. Internamente, pessoalmente, é possível que também apoiem uma solução política. Mas quando o ocidente lhes dá ordens, são obrigados a obedecer. Em termos bem gerais, essa é a situação, na região e no plano internacional.

Ulusal Kanal(2): Nos dois últimos anos, temos assistido aos conflitos sobre a Síria e dentro da Síria. Esses conflitos são apoiados, por um lado, pelos EUA, França, Turquia e alguns regimes do Golfo. Esses regimes dizem que os grupos dentro da Síria combatem contra o seu governo. E mais de cem países declararam que o senhor deve deixar o governo. Isso posto, o senhor considera a possibilidade de deixar o governo e permitir que outro nome o substitua?

Presidente Bashar al-Assad: Sua pergunta implica que um grande número de países ocidentais, e nossos aliados, inclusive a Turquia, e muitos países árabes estariam contra essa presidência. Ao mesmo tempo, sua pergunta implica também [que os grupos internos] também estariam contra essa presidência. Nada disso explica que a Síria se tenha mantido firme, já há três anos. Não me incomoda que haja oposição ao meu governo. Sou presidente eleito pelo povo sírio. Disso se conclui que o presidente ficar na presidência ou deixar a presidência é uma grave decisão nacional, a ser tomada, exclusivamente, pelo povo sírio, não por outros estados que digam que desejam que a presidência fique ou saia. Sejamos francos. Será que todos esses estados estão preocupados com a Síria ou com o sangue do povo sírio? 

A começar pelos EUA, que apoiam há décadas os crimes cometidos por Israel, desde que Israel foi criada em nossa região. Os EUA cometeram massacres no Afeganistão e no Iraque, que resultaram em milhões de mortos, feridos e mutilados. A França e a Grã-Bretanha cometeram massacres na Líbia, sempre com o apoio dos EUA. O atual governo turco está metido até os joelhos em sangue sírio. Volto a perguntar: quais desses estados estão preocupados com o sangue dos sírios?

A questão de se o presidente fica ou sai, é decisão que cabe ao povo sírio. Nenhum país do mundo tem qualquer coisa a ver com isso.

Ulusal Kanal (1): O senhor disse que o que está acontecendo na Síria é efeito de apoio que vem do exterior. Mas estamos em Damasco e se ouve o som de explosões e o som dos bombardeios, em diferentes distâncias nunca param. Por que isso tudo está acontecendo?

Presidente Bashar al-Assad: A Síria está cercada por países que estão ajudando terroristas a entrar em território sírio. Claro. Nem todos os países fazem intencionalmente e sabendo o que fazem. Por exemplo, o Iraque é contra esse movimento de infiltrar terroristas em território sírio, mas há circunstâncias que impedem que o estado tenha pleno controle de todas as fronteiras. No Líbano, a situação é de divisão: alguns partidos apoiam e outros se opõem à política de mandar terroristas para dentro do território sírio. A Turquia apoia e hospeda terroristas em termos oficiais e os está mandando para território sírio. Alguns grupos terroristas entram na Síria pela Jordânia e não se sabe ainda se com ou sem o apoio do governo jordaniano. Enquanto perdurar essa ação de contrabandear terroristas e armas para dentro do território sírio, nós continuaremos a lhes dar combate. É normal. É guerra, em qualquer sentido da palavra. Não há como separar os diferentes incidentes de segurança. Só é possível que terroristas continuem a entrar em território sírio, aos milhares, talvez dezenas de milhares – é difícil quantificar com precisão –, se recebem apoio externo. E estão chegando de várias direções. Por isso há combates em várias regiões do país.

Ulusal Kanal(2): Senhor presidente, o senhor disse que o governo turco apoia oficialmente e publicamente grupos terroristas, garantindo diferentes tipos de ajuda e apoio àqueles grupos terroristas. Mas sabe-se que, até bem recentemente, havia relações amigáveis entre Erdogan e o governo turco, e o senhor. O que aconteceu, que mudou tanto essa situação?

Presidente Bashar al-Assad: É possível que Erdogan tenha visto, nos eventos em curso no mundo árabe, uma oportunidade para prolongar a própria vida política. É a mesma mentalidade da Fraternidade Muçulmana. Nossa experiência, na Síria, com a Fraternidade Muçulmana, ao longo de 30 anos, ensina que são um grupo de oportunistas. Usam a religião para obter vantagens pessoais. Ele [Erdogan] viu que em todos os países onde houve revoluções, ou golpes de Estado, ou intervenção estrangeira, a Fraternidade Muçulmana está hoje no poder. Erdogan viu, nisso, uma grande oportunidade para permanecer no poder, sob diferentes formas, ainda por muitos e muitos anos. Virou-se contra a Síria, porque viu aqui uma boa oportunidade para manter-se no poder. De início, tentou interferir em assuntos internos da Síria. 

Já antes da crise, Erdogan estava mais interessado na Fraternidade Muçulmana, do que nas relações entre Síria e Turquia, muito mais do que no destino da Síria.

Esse pessoal pensa dessa forma. Dadas algumas circunstâncias, eles sempre pensam, primeiro, nos próprios interesses pessoais. Como já disse, Erdogan tentou, primeiro, interferir em assuntos internos da Síria. E depois o governo turco começou a apoiar publicamente vários grupos terroristas dentro da Síria. Hoje, estão muito profundamente envolvidos no derramamento de sangue dentro da Síria. Nesse contexto, as nossas relações deterioraram-se muito gravemente. 

Ulusal Kanal (1): Perguntamos ao senhor Erdogan sobre as relações sírio-turcas. Ele diz que foi franco com o senhor e lhe fez várias propostas sobre reformas, que o senhor rejeitou. Por que o senhor não considerou as propostas que lhe foram feitas pelo senhor Erdogan?

Presidente Bashar al-Assad: Infelizmente, Erdogan não disse uma palavra franca e confiável desde que essa crise começou. Nenhuma. E não estou exagerando. As propostas eram muito gerais. Eu disse a ele que só o povo sírio decidiria quem seria presidente e que sistema de governo teríamos. Já comentei as propostas de Erdogan, com muito detalhe, em vários pronunciamentos. Temos de preparar eleições, nas quais os vários grupos políticos apresentem candidatos. E assim decidiremos qual a melhor via para prosseguir. Por melhores e mais importantes que fossem as propostas de Erdogan, em nenhum caso seriam mais importantes ou melhore que eleições para saber o que o povo quer. O que poderia ser melhor que essa solução? Haverá eleições, e o que o povo decidir será implementado.

Mas há uma pergunta simples, que vocês deveriam fazer. Se Erdogan continua a dizer que suas propostas teriam resolvido todos os problemas na Síria, que relações haveria entre aquelas propostas que eu ouvi e o apoio que ele dá hoje a grupos terroristas? Hoje, nesse momento, Erdogan está recrutando, entregando armas, dando dinheiro, garantindo equipamento médico e outros detalhes de apoio logístico. E abriu a fronteira para que esses grupos entrem na Síria. O que isso tudo teria a ver com as propostas de Erdogan, que, sim, ouvi atentamente?

Erdogan sabe que, desde o primeiro dia, nós sempre aprovamos qualquer solução que implicasse diálogo político. Ele sabe. Nós anunciamos que aceitávamos o diálogo com todos os partidos políticos sírios. Quando nada disso funcionou, com a presteza que Erdogan precisava que funcionasse, ele mudou de conversa. E passou imediatamente a armar grupos terroristas. Erdogan mente. Aquelas propostas serviram-lhe como uma máscara. 

Nós sempre aceitamos conselhos e contribuições de qualquer partido, em qualquer circunstâncias. Mas não aceitamos intervenção em assuntos internos da Síria. Parece que Erdogan entendeu mal nossa posição. Ele entendeu que as relações fraternas entre Turquia e Síria permitiriam intervenção em nossos assuntos internos, com o objetivo de derrubar um governo sírio legítimo. Mas, para mim, essa situação já estava bem clara, desde os primeiros dias.

Ulusal Kanal (2):  Há notícias na imprensa turca, de que há pessoal dos serviços de segurança envolvidos com em atividades terroristas e ajudando grupos terroristas, trabalhando para infiltrá-los em território sírio. Alguns jornais dizem que a Turquia comete crime, encobrindo esse tipo de atividade. O que o senhor tem a dizer sobre isso?

Presidente Bashar al-Assad: Como já disse, o atual governo turco não está, de modo algum, contribuindo para pôr fim à matança do povo sírio. Há quem esteja à espera de que a Síria adote a via da retaliação. Não o faremos. 

Estamos contra o crime de infiltrar terroristas em território sírio, e contra todos os atos criminosos. Mas  entendemos que o povo turco é povo irmão dos sírios. Em terceiro lugar, retaliação é, precisamente, o que Erdogan deseja. Ele quer criar um conflito entre o povo turco e o povo sírio, tentando angariar apoio popular para suas políticas. Está tentando restaurar parte da popularidade que teve, e já perdeu. 

Os sírios não cairemos nessa armadilha. Por dois motivos: por princípios e porque os interesses sírios estão alinhados com os interesses do povo sírio, embora não, no momento, com os interesses do atual governo turco. Nenhum conflito entre o povo sírio e o povo turco jamais servirá a qualquer interesse dos nossos povos. E só fará complicar ainda mais as coisas. O que fizemos nos últimos dez, doze anos, desde que o presidente [
Ahmet Necdet] Sezer foi eleito, em 2000, foi construir o debate entre nossos povos, entre árabes e turcos. Agora, o presidente Erdogan quer pôr a perder tudo o que foi feito. Não cometeremos nenhuma retaliação contra o povo turco. Para saber, consultem os serviços turcos de inteligência. 

Mas, até agora, não capturamos nenhum agente da inteligência ou do exército turco que estivesse agindo na Síria. Isso não significa que não estejam aqui. Estão apoiando os grupos terroristas. Os serviços de inteligência da Turquia estão fornecendo todo o treinamento, todo o equipamento, todas as estruturas de comunicação – o necessário apoio da imprensa, indispensável – a grupos terroristas para que se infiltrem em território sírio.

Do que vários terroristas já confessaram, já sabemos que há indivíduos envolvidos na Turquia. O princípio desse envolvimento está no apoio que o atual governo turco dá à ação dos grupos terroristas. O fato de que não haja pessoal da inteligência turca operando dentro da Síria não implica que não estejam ativos.

Ulusal Kanal (1): Suas declarações, senhor presidente, são bem claras sobre as políticas turcas. O ministro de Relações Exteriores da Turquia, Davutoglu, disse que preferiria renunciar ao cargo, se tivesse de apertar a mão do presidente Bashar al-Assad, se ele permanecer no poder. O que significa isso, em termos das relações entre os dois países?

Presidente Bashar al-Assad: Não posso honrar essa declaração, com alguma resposta. Absolutamente não é o caso. Essa fala desonra o alto padrão moral do povo turco, que sempre testemunhei em minhas muitas visitas à Turquia. De minha parte, respeitado o alto padrão moral do povo sírio, não há o que responder. Minhas relações com Erdogan foram construídas como pontes entre nossos povos. Se o primeiro-ministro, Erdogan e o atual governo turco já estão envolvidos na guerra que faz correr sangue sírio, já não se pode cogitar de pontes, nem pessoais, entre nós, nem entre eles, nem entre eles e o povo sírio.

Ulusal Kanal (2): Como o senhor deve ter sabido, quando o presidente Barack Obama esteve em Israel, o primeiro-ministro Netanyahu pediu desculpas à Turquia, sobre o que houve com o navio turco que levava ajuda a Gaza. Como o senhor interpreta esses desenvolvimentos?

Presidente Bashar al-Assad: Há uma pergunta clara e óbvia, nessa situação. O primeiro-ministro Netanyahu já era primeiro-ministro quando ocorreu o ataque ao navio turco, há três anos. Continua no mesmo posto. Por que jamais aceitou pedir desculpas antes, durante tanto tempo? O que mudou? É o mesmo Erdogan. É o mesmo Netanyahu. A grande mudança, de lá até hoje, é a situação na Síria. O que aconteceu prova, precisamente e muito claramente, que há um acordo entre Israel e Turquia, relacionado à situação síria. Também confirma que Erdogan está agora alinhado com Israel, trabalhando para agravar cada vez mais a situação na Síria. Nos últimos anos, Erdogan conseguiu mobilizar a opinião pública turca, como bem entendeu, contra a Síria. Também nunca desistiu de tentar cravar suas garras no estado sírio. A Síria continua a defender-se nessa batalha feroz. Erdogan não teria outro a quem recorrer, se não a Israel, potência ocupante, inimigo de todos os povos árabes. 

Ao mesmo tempo, essas desculpas também ajudam Erdogan a restaurar, pelo menos em parte, a própria credibilidade, que ele perdeu, na Turquia.

Ulusal Kanal (1): Quero retomar o que aconteceu em passado recente. Dia 21 de março, reuniram-se Erdogan e [
Abdullah] Öcalan [do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK)[1]]. Nessa reunião, discutiram a formação de um novo Oriente Médio, com árabes, sírios, curdos e turcos. O senhor acompanhou o desenrolar dessas reuniões e declarações?

Presidente Bashar al-Assad: Por hora, só temos a informação distribuída pela mídia. Ainda não recebemos os detalhes dessas conversações, de nenhum dos lados. Já há alguns anos, em todos os passos adotados para resolver a questão curda, nossa posição declarada sempre foi aceitar qualquer solução que satisfaça aos curdos e aos turcos, porque nunca quisemos mais e mais derramamento de sangue na Turquia, que sempre teria impacto negativo por aqui. Qualquer solução negociada e aceita entre essas duas partes terá nosso apoio, porque o povo curdo é parte natural do tecido da região. Não são hóspedes nem imigrados. Vivem aqui há séculos, há milhares de anos. Mas qualquer solução estável para a questão turco-curda depende hoje da credibilidade de Erdogan. É homem em quem não confio. Não cumpre o que promete. Todos os passos que está empreendendo hoje visam exclusivamente a angariar apoio político para ele mesmo. Aqui, outra vez, cabe a mesma pergunta óbvia: por que não tomou exatamente a mesma providência, de negociar com os curdos, há poucos anos? Outra vez a resposta é a mesma: isso, agora, também está relacionado à situação na Síria. E às eleições na Turquia.

Ulusal Kanal (2): O senhor disse que resolver a questão turco-curta é tema importante para toda a região. Podemos ouvir de Vossa Excelência uma opinião mais ampla sobre como resolver essa questão? 

Presidente Bashar al-Assad: 
Temos de ser bem claros: nacionalidade é diferente de etnicidade. Vivemos em região mestiça. O fato de você ser turco não implica que não possa ser curdo ou armênio, ou de origem árabe. Somos árabes pela cultura e pela língua. A situação na Turquia é semelhante à situação na Síria. Quando digo “árabe” não falo de etnia ou raça. 

Os dois nacionalismos, o turco e o árabe, mostram o quanto o modelo nacionalista pode ser civilizado, de inclusão de diferentes. O problema é que esse conceito, no passado, foi adotado por uma mentalidade de exclusão, de uma cultura rejeitar ou eliminar a outra. Eu entendo que um dos aspectos mais belos dessa região é a diversidade. E um dos maiores perigos que corremos é não ver essa diversidade como fator de enriquecimento e de empoderamento. Mas em vez disso, temos assistido a pessoas que convocam forças e interesses de fora, para nos lançar uns contra os outros e criar conflitos por aqui. Foi o que se viu acontecer no início do século passado, quando começaram os conflitos entre turcos e árabes, nos dias finais do Império Otomano. 

Muitos grupos nacionalistas árabes quiseram que diferentes nacionalismos árabes florescessem dentro do Império Otomano. Mas isso gerou conflitos e levou a erros de todos os lados, o que facilitou a intervenção por atores estrangeiros.
Hoje, temos de ver a situação com interesse em promover a inclusão de todos. Somos feitos do mesmo tecido diverso, entretecidos de diferentes cores.

Ulusal Kanal (2): Senhor presidente, uma das questões mais difíceis atualmente em discussão na Turquia é a questão do PKK
. Há discussões sobre organizações que estariam operando na Síria e teriam ligações com o PKK, que teria forte influência sobre aquelas organizações. O que se diz é que essas organizações estariam muito interessadas em criar um vácuo militar no norte da Síria, a ser preenchido por aquelas organizações. Como o senhor, presidente, lê essas informações? 

Presidente Bashar al-Assad: Quando há caos em qualquer estado, como é o caso hoje na Síria, sempre aparecem muitos grupos interessados em preencher os vácuos. Às vezes, são gangues, interessados só em matar e roubar. Às vezes são grupos políticos, às vezes são partidos, com programa político. Existem na Síria, na Turquia, no Iraque, em outros locais. Não se pode generalizar, e incluir todos os curdos no que é agenda só de pequenos grupos. Muitos curdos são patriotas, querem viver na Síria. A emergência de alguns casos específicos não é motivo para que generalizemos, como se houvesse situação homogênea. A separação depende de outro tipo de ambiente. Tem de haver amplo apoio popular. Ou a luta é feita com interessados externos. Entre curdos sírios e curdos turcos, as circunstâncias são muito diferentes. No momento, essa questão não me preocupa.

Ulusal Kanal (1): Senhor presidente, temos agora uma questão muito importante. Desde o início dos eventos na Síria, alguns partidos e pesquisadores insistem em discutir outro projeto, envolvendo a superação dos estados no norte da Síria, norte do Iraque, sul e leste da Turquia, separando essas regiões de seus respectivos estados centrais. O senhor acha que há o risco de o norte da Síria acabar por superar o estado central?

Presidente Bashar al-Assad: Como eu já disse, as atuais circunstâncias na Síria não sugerem qualquer movimento nessa direção, sobretudo se se considera a opinião pública em geral. O povo sírio rejeita completamente qualquer ideia de separação do estado sírio. Nenhum estado soberano aceitaria que partes do território sejam cortadas do território principal. Essa posição é categoricamente inaceitável e absolutamente indiscutível.

Ulusal Kanal (1): Baseados em nossas perguntas e suas respostas: parece haver um plano bem claro, construído por países ocidentais, em cooperação e coordenação com alguns países da região, para criar um Grande Curdistão, que seria formado de uma parte do norte do Iraque, leste do Irã, norte da Síria, e sul e leste da Turquia. Parecem decididos a alcançar esse objetivo. Estamos andando nessa direção?

Presidente Bashar al-Assad: Não acredito que esses quatro países, Iraque, Síria, Irã e Turquia, subscreveriam essa proposta. Estados independentes, hoje, trabalham pela integração, não pela subdivisão e separação. Infelizmente, nossa região é uma exceção, e sinal de atraso. Hoje, o que se vê é a formação de grandes blocos de países. Os BRICSs são bom exemplo. Os estados buscam unir-se em blocos maiores, porque isso é uma exigência dos tempos que vivemos. Por que, então, em nossa região, andaríamos na direção contrária, buscando a segmentação? O que impediria que pessoas de diferentes nacionalidades, religião, etnia, vivam juntas? 

Se aceitarmos a noção da separação, teremos de viver com as consequências, a saber: fragmentação em vários pequenos miniestados baseados em etnicidade, reforçando as diferenças. Assim se cria uma situação extremamente perigosa, que só gerará mais guerras no futuro. Por isso não me parece que essa proposta de divisão seja proposta a considerar, nem que seja proposta séria. 

Esses quatro estados que a proposta divisionista considera deveriam, isso sim, dedicar-se a fazer com que todos os seus cidadãos sintam-se como cidadãos de primeira classe. Todos com direitos e acesso igual aos direitos. A solução, por essa via é clara e simples. Mas se, por outro lado, há cidadãos que se sentem humilhados, é normal que pensem em separação.

Ulusal Kanal (2): Senhor presidente, o senhor teve um projeto interessante. O senhor falava da construção de meios para a unificação política e econômica dos cinco ‘curdistões’ [orig. Five “Cs”]. Pode falar ao público turco sobre como todos poderíamos nos beneficiar do seu projeto?

Presidente Bashar al-Assad: É exatamente o que já disse, quando falei sobre a exigência, no mundo contemporâneo, de integração e unificação. A quem interessaria criar mais um estado, à maneira dos estados que existiam antigamente, em vastos impérios territoriais? Hoje é possível nos unirmos nós mesmos, com vistas aos nossos próprios objetivos gerais de todo o Oriente Médio. Por exemplo, todos podemos construir estradas, e diferentes vias para transporte terrestre. Vias regionais de fornecimento de água, gás, petróleo, outras formas de energia. Criar redes que unam nossos países, nessa região crucialmente estratégica do mundo que se designa como “os cinco curdistões”. Todos os países devem dirigir investimentos para essa região. Assim se fortaleceriam todos os países e também os vários nacionais de etnia curda.

Essa visão exige determinação, vontade e capacidade para tomar decisões independentes na nossa região, sobretudo se muitos grandes estados ocidentais não têm interesse algum em qualquer projeto que vise a beneficiar os cidadãos da nossa região, a fortalecer a região. Não têm qualquer interesse em promover a estabilização do Oriente Médio.

Não me parece que, hoje, haja condições objetivas para trabalhar na direção desse nosso projeto. Há muitos problemas na Síria, no Líbano, no Iraque. Praticamente todos esses problemas são resultado da intervenção do ocidente. E, na Turquia, por exemplo, entendo que não há governo independente. E a Turquia seria elemento central para implementar esse projeto, sobretudo por sua posição estratégica.

Mas nada disso significa que o projeto tenha sido cancelado. Temos de manter na cabeça a ideia de que o futuro dessa região depende de grandes projetos como esse.  Se todos continuarmos confinados em nossas respectivas fronteiras nacionais, continuaremos a ser países pequenos, na escala global. Mesmo no caso de países de grande território, como Turquia e Irã, não conseguirão manter-se sozinhos, se não estruturarmos esses grandes projetos transfronteiras.

Ulusal Kanal (2): A partir de sua resposta, gostaria de passar a outra questão, relacionada às guerras sectárias. Muita gente fala de guerra entre sunitas e xiitas na região. Na sua opinião, os conflitos em curso podem ser vistos como sectários por natureza?

Presidente Bashar al-Assad: Essa questão foi levantada pela primeira vez em 1979, a partir da Revolução Iraniana, que derrubou do poder um dos mais importantes aliados dos EUA na região. A única solução foi apresentar aquela revolução como se fosse revolução xiita, para que outras seitas se opusessem a ela. Nesses termos, inventaram a guerra Irã-Iraque, que foi apoiada por alguns países do Golfo. Pouco depois, a Fraternidade Muçulmana na Síria foi usada para o mesmo objetivo: para criar oposições sectárias. Falharam nos dois casos, na primeira e na segunda tentativa. Agora, três décadas depois, não há outra escolha, além de criarem novamente a alternativa sectária. Por isso, voltam a levantar a mesma questão agora. 

No início da crise, as posições foram sectárias. Falharam, até agora. Se tivessem sido bem sucedidos, o regime teria sido fragmentado, em resultado desse conflito. O aspecto positivo disso tudo, é que a opinião pública vai-se tornando cada dia mais consciente das ideologias sectárias. Mas há bolsões sectários, alimentados pela ignorância, que sempre há, em qualquer sociedade.

Acredito que, agora, a essência do conflito não é sectária. O conflito hoje se trava entre forças e estados que querem empurrar os povos para aqueles estágios atrasados, e forças e estados que querem que os povos da região possam avançar. Entre os que querem que os povos da região encontrem aqui uma pátria onde possam viver livres, e outros que querem que aqui só haja estados-satélites, exclusivamente para promover interesses daqueles estados e forças, não dos povos da região. Ao mesmo tempo, aquelas forças são parte de uma luta internacional de interesses conflitantes, da qual Síria e Turquia são parte. Essa luta está sendo afetada por diferentes fatores que podem levar à fragmentação dessa região, de modo a permitir que potências globais passem a controlar nosso destino e nosso futuro.

Ulusal Kanal (2): Mesmo assim, fora da Síria, estão sendo adotadas políticas oficiais baseadas em divisões e fragmentação baseadas em etnicidade e por seitas religiosas. Por outro lado, vivemos e testemunhamos na Turquia o processo do qual o senhor fala, especialmente depois que a República secular foi criada e dirigida por Mustafá Gamal Ataturk. Mas, infelizmente, esses estados e governos afastaram-se daquele projeto, que trocaram por projetos religiosos e sectários. Como o senhor vê o futuro desses sistemas políticos?

Presidente Bashar al-Assad: Esses sistemas políticos e establishments que buscam a divisão e a fragmentação estão preparados para guerras que se arrastem por anos, mesmo séculos em nossa região. Destruir tudo. Impedir qualquer prosperidade, qualquer desenvolvimento, devolver à Idade Média vários aspectos de nossa vida. Isso é muito perigoso. Quando penso em secularismo, falo em liberdade para todas as nossas religiões e práticas religiosas. Nossa região é basicamente conservadora. Muitos são religiosos e devem ser livres para praticar a religião que prefiram, para cumprir seus rituais. Não devemos pensar nem por um momento, que haja alguma contradição entre etnicidade e religião. Essa é a essência de nosso pensamento sobre secularismo. Por isso, sempre trabalharei pela unificação dos nossos povos nessa região. 

Como já disse antes, não importa a natureza das nossas questões entre Síria e Turquia, não se pode permitir que coisa alguma afete as relações entre nossos povos, entre os sírios e os turcos. Porque na aproximação entre nossos povos está a única garantia que temos para preservar a diversidade, que é a riqueza de nossas sociedades. 

Ulusal Kanal (1): Senhor presidente, o senhor acompanha de perto os desenvolvimentos na Turquia? 

Presidente Bashar al-Assad: É normal que acompanhe. O que acontece na Turquia acontece em outros grandes países, que ocupem posição estratégica e tudo que aconteça nesses países afeta a situação síria. Ao mesmo tempo, há tantas semelhanças: a natureza do povo, as emoções, a textura do tecido social na Turquia. Há muitas semelhanças. Repito: o que aconteça na Turquia sempre terá impacto sobre a Síria, Por isso entendemos que a estabilidade na Turquia é do mais alto interesse também da Síria. E vice-versa. Se vocês sofrerem turbulências, nós seremos afetados. O desafio, hoje, é convencer o atual governo turco, especialmente o primeiro-ministro Erdogan, de que fogo na Síria queimará a Turquia. Infelizmente, ele não vê essa realidade.

Ulusal Kanal (2): Quanto ao diálogo com a oposição, o senhor sempre falou a favor de solução política e diálogo direto com a oposição. Há prazos e limites [orig.red lines, linhas vermelhas] para esse diálogo? 

Presidente Bashar al-Assad: A única “linha vermelha” é qualquer intervenção estrangeira. Qualquer diálogo terá de ser diálogo sírio, exclusivamente entre sírios. Não se admite nenhuma intervenção estrangeira nesse diálogo. Exceto por esse limite, absolutamente não há qualquer outro limite. Os sírios podem discutir tudo que queiram discutir, qualquer tema, qualquer questão. A Síria é a pátria deles todos e todos podem discutir o que queiram. Não há “linhas vermelhas”.

Ulusal Kanal (2): Muitos veículos de imprensa insistem em que a Síria seria governada por uma ditadura alawita, interessada exclusivamente em eliminar os sunitas. E até o assassinato de Mohammad Said Ramada al-Bouti entra nesse quadro. Como o senhor responde a essas acusações?

Presidente Bashar al-Assad: Falamos no início sobre a diversidade dessa região. E vivemos estáveis por muitas décadas, sem qualquer problema interno. Como teríamos conseguido aquela estabilidade, se não houvesse aqui um governo que é a imagem do próprio povo? Seja onde for, se o governo é controlado por um ou mais grupos, contra outros grupos sociais e, assim, não reflete as características de toda a população, o governo não pode sobreviver. Nenhuma dessas acusações é verdadeira. Vivemos em paz na Síria durante décadas, porque o governo sempre foi expressão da diversidade do próprio povo.

Quanto à morte do Dr. al-Bouti [muçulmano sunita tradicionalista], é ridículo acusar a Síria de qualquer envolvimento naquele assassinato. Essas acusações são feitas pelos mesmos grupos que, antes, o acusavam, apenas poucos dias antes, de ser porta-voz de autoridades religiosas, em assuntos religiosos. É operação pensada para ferir a popularidade do Dr. al-Bouti entre os sírios e entre seus seguidores no mundo muçulmano. Ele nunca teve autoridade nem foi porta-voz de nenhuma autoridade. Jamais quis para ele qualquer autoridade. Nunca quis ser ministro, oumoufti, nunca pediu dinheiro a ninguém e era homem de vida simples. Seu único crime é que se pôs à frente do grupo de religiosos [sunitas] ativamente envolvido no trabalho de promover divisões sectárias entre os sírios. O Dr. al-Bouti estava à frente daquele grupo, primeiro, por sua posição na Síria e no mundo muçulmano. Segundo, porque tinha grande dificuldade para entender o que realmente está acontecendo. 

Não há dúvida de que sem a concordância desses líderes religiosos é praticamente impossível criar os conflitos religiosos, mas os líderes acabam pagando com a própria vida, pelo sectarismo que pregam. Não há dúvidas de que o Dr. al-Bouti tinha grandes defeitos, sobretudo na posição que adotou nessa guerra. Não apoiava o Estado sírio e aliou-se aos estrangeiros. Por esses e outros erros, pagou com a vida, numa luta religiosa que ele mesmo incentivou. Mas outros líderes religiosos que não compactuam com o movimento para separar os grupos religiosos também têm sido assassinados. Mais um deles foi assassinado, há poucos dias, em Aleppo. Todos os líderes religiosos que não preguem divisionismos e ensinem sobre tolerância religiosa, sobre moderação, opõem-se a guerras religiosas, não as incitam.

Ulusal Kanal (1): Muito obrigado, senhor presidente, por essa entrevista a Ulusal Kanal. Há mais alguma coisa que o senhor queira dizer ao povo turco?

Ulusal Kanal (2): Estamos agora num momento crucial da história. Falo da Síria, da Turquia, de toda a região. Tudo que se vê acontecendo aqui tem alguns elementos espontâneos e tem também elementos planejados fora daqui, e que foram planejados com o objetivo de alcançar pleno controle de toda essa região. O que acontece hoje é, na essência, similar ao que aconteceu há 100 anos, em termos de projeto para redividir a região. Mas há 100 anos, nós aceitamos a redivisão da região: uma parte para eles, uma parte para nós, uma parte para outros interessados. Dessa vez, contudo, não podemos aceitar nenhum redesenho da região que não considere os interesses dos próprios povos da região. O povo terá de tomar suas decisões. Nós decidiremos. Infelizmente, vários governos da região não veem as coisas desse modo. E aceitam ordens e agem em obediência ao diktat dos interesses de estados estrangeiros, na maioria estados ocidentais. 

Nos últimos tempos já se viram várias tentativas para semear a discórdia entre os povos sírio e turco. Quero dizer que o trabalho que iniciamos há dez anos, com o presidente 
Sezer deve ser retomado e continuado. Refiro-me ao trabalho para construir solidariedade e amizade entre turcos e sírios. Nada disso será jamais possível se não houver relações normais entre nossos estados. Como já disse, a prosperidade de um dos estados da região refletir-se-á nos demais. Pela mesma razão, o que haja de divisões e conflito num de nossos países, respingará fatalmente sobre o outro.

Governos passam e é importante que passem. Por isso temos de construir projetos que fortaleçam os povos da região, não projetos que só interessam a potências estrangeiras. É a mensagem que tenho para o povo turco. [despedidas e fim da entrevista] 

[1] Partiya Karkerên Kurdistan; em português, Partido dos Trabalhadores do Curdistão. O PKK tem um braço armado, Força de Defesa do Povo (conhecido pela sigla HPG), listado como “organização terrorista” pela Turquia e pelos EUA; até recentemente, também pela União Europeia, que o deslistou por ordem judicial [NTs com informações de http://pt.wikipedia.org/wiki/Conflito_curdo-turco].